Brasil é governado por um bando de maluco, diz Lula em entrevista

Brasil é governado por um bando de maluco, diz Lula em entrevista

A gente fez um roteirinho aqui pra tentar
organizar porque o nosso tempo é um pouco… – Conheço, conheço os seus roteiros. – A gente queria começar aqui
falando o seguinte, presidente, sobre a prisão do senhor. Foi um dia histórico no Brasil e a gente queria saber o que passou pela
cabeça do senhor quando o senhor estava sendo preso sendo conduzido para a
prisão. Veja, eu, durante todo o processo,
eu não sei se eu cheguei a conversar com você na entrevista que nós fizemos,
mas eu sempre tive certeza desde que começaram os discursos
e o processo da Lava Jato, de que tinha um objetivo central, que ia chegar em mim. Aliás, uma amiga nossa, jornalista importante, Tereza Cruvinel, escreveu um artigo importante em que ela falava “o que eles querem,
na verdade, é o Lula”. Isso foi ficando patente todos os depoimentos. Você está lembrado que a imprensa retratava: “Prenderam fulano”, “ah, vai chegar no Lula”, “prenderam fulano”, “vai chegar
no Lula”, “prenderam fulano”… E muita gente que era preso a primeira pergunta que faziam era “você conhece o Lula?”, “você é amigo do Lula?”, “você fez alguma coisa com…”, todo mundo… E eu sabia disso porque a imprensa retratava,
sabia disso porque as pessoas contavam sabia disso porque advogado conversava
com o advogado e foi ficando patente que o objetivo era chegar em mim. Tinham companheiros no PT que não gostavam
quando eu dizia isso Sabe, eles vão chegar em mim e depois vão caminhar para criminalizar o PT, né? Pois bem, quando ficou claro que o
objetivo central era efetivamente… Tinha muita gente que achava
que eu deveria sair do Brasil, tinha muita gente que achava que eu deveria ir para uma
embaixada, tinha muita gente que achava que eu deveria fugir E eu tomei como decisão, Mônica,
que meu lugar é aqui. Eu tenho tanta obsessão de desmascarar o Moro, desmascarar o Dallagnol e a sua turma, desmascarar aqueles que me condenaram, sabe? que eu ficarei presos cem anos. Mas eu não trocarei a minha dignidade pela minha liberdade. Eu quero provar a farsa montada,
eu quero provar. Montada aqui dentro, montada no Departamento de
Justiça dos Estados Unidos com depoimento de procuradores com um filme gravado e agora mais agravado com, sabe, a criação da Fundação Criança Esperança
do Dallagnol, sabe? Pegando dois bilhões e meio de reais da Petrobrás para criar uma fundação para ele. Fora seis bilhões e oitocentos da Odebrecht
e fora não sei quanto outras coisas. Eu tenho uma obsessão. Você sabe que eu não tenho ódio, não
guardo mágoa, porque na minha idade, quando a gente fica com ódio, a gente morre antes. Então, como eu quero viver até os 120, que eu acho que eu sou um ser humano que nasceu para ter 120, eu vou trabalhar muito para provar a minha inocência
e a farsa que foi montada. Por isso, eu vim pra cá com muita tranquilidade. Havia uma briga no sindicato aquele dia entre os que queriam que eu viesse
e os que queriam que eu não viesse. E eu tomei a decisão de falar “não, eu vou”. “Eu vou, eu vou lá”, eu não vou esperar que eles venham até mim, eu vou até eles, porque eu quero ficar preso perto do Moro
e o Moro saiu daqui, mas eu quero ficar perto, porque eu tenho que provar a minha inocência. [Bergamo] Mas presidente, o senhor concretamente, é um fato, pode ser que o senhor fique aqui para sempre. O senhor mesmo assim acha que tomou a
decisão correta? Tomaria outra vez você. [Bergamo] O senhor já pensou que você pode ficar aqui para
sempre? Não tem problema. Eu tenho certeza que eu durmo todo dia com a minha consciência tranquila, que eu tenho certeza que o Dallagnol não dorme,
tenho certeza que o Moro não dorme. E aquele juiz do TRF-4 que nem leram a sentença, sabe? Fizeram um acordo lá,
era melhor que um só tivesse lido e ter falado olha todo mundo
aqui vota igual. Então, eu quero, sinceramente, quem tem
73 anos de idade, quem construiu a vida que eu construí nesse país,
quem estabeleceu as relações que eu estabeleci neste país, quem fez o
governo que eu fiz nesse país, quem recuperou o orgulho
e a autoestima do povo brasileiro como eu e vocês fizemos no meu período de governo… Não vou me entregar. Então, eles sabem que eles têm aqui um
pernambucano teimoso Eu digo sempre quem nasceu em pernambuco e não morreu de fome até os 5 anos de idade não se curva mais a nada. Você pensa que eu não gostaria de estar casa? Adoraria estar em casa com a minha mulher,
adoraria estar casa com meus filhos, adoraria estar em casa com meus netos,
adoraria estar em casa com meus companheiros, mas não faço nenhuma questão, porque eu quero sair daqui com a cabeça erguida como eu entrei: inocente. E eu só posso fazer isso
se eu tiver coragem e lutar por isso. – Presidente, recentemente o ministro Paulo Guedes disse que o senhor não cometeu nenhum crime, que o senhor não roubou. O ministro do Bolsonaro admitiu isso. Depois o Marco Aurélio disse, agora recentemente, também não vê indícios de crime no triplex do Guarujá. E o Maurício Dieter, que é um dos maiores criminalistas, leu o
processo e disse que também não tem material para sua condenação. O senhor acha que agora com a devolução do dinheiro que foi pago pela sua esposa por esse triplex, o senhor pode tentar conseguir a sua absolvição, é possível isso, o senhor ainda acredita nisso? Por incrível que pareça eu acredito. Você sabe que nessas coisas eu ainda continuo
com a cabeça de Lulinha “paz e amor”. Eu acredito na construção de um mundo
melhor, eu acredito em um mundo de justiça. Veja o que eu penso na vida? Eu penso que haverá um dia em que as pessoas que irão me julgar estarão preocupadas com
os autos do processo, estarão preocupados com as provas
contidas no processo, e não com a manchete do Jornal Nacional e não com as capas das revistas e não com as mentiras
das fake news. As pessoas se comportarão
como juízes supremos de uma corte que a única coisa
que a gente não pode recorrer Sabe, que já tomou decisões muito importantes. Essa corte votou, por exemplo,
célula-tronco contra uma boa parte da Igreja Católica, essa corte já votou a questão da Raposa Serra do Sol contra os poderosos do
arroz no estado de Roraima. Essa mesma corte votou a união civil contra todo o preconceito evangélico, essa corte votou as cotas para que os negros pudessem entrar. Então, ela já demonstrou que teve coragem e se comportou Olha, no meu caso, a única coisa que eu quero é que vote com relação aos autos do processo. Eu não peço favor a ninguém, eu não quero favor de ninguém, eu não quero,
sabe? Eu só quero que a pessoas, pelo amor de Deus, julguem em função das provas,
porque eu tenho certeza, eu tenho certeza, o Moro tem certeza. Se as pessoas não confessarem agora, no dia da extrema unção a gente vai confessar. Ele tem certeza que eu sou inocente, esse Dallagnol tem certeza que ele é mentiroso
e mentiu a meu respeito… Então, eu estou aqui, meu caro, para
procurar a justiça, para provar minha inocência, mas estou muito mais preocupado com o que está acontecendo com o povo brasileiro, porque eu posso brigar e o povo nem
sempre pode. [Fernandes] Presidente, só retomando a pergunta da Mônica, no início, sobre a prisão. O senhor aqui durante esse um ano passou por dois momentos de muita tristeza, que foi a morte de seu irmão
e depois a morte do seu neto Arthur. O que para o senhor, depois de viver isso, fica? Quer dizer, o que fica da vida para o senhor? Olha, Florestan, eu vou contar uma coisa para você. Esses dois momentos foram os mais graves. Eu poderia incluir a perda de um companheiro como Sigmaringa Seixas que é o meu companheiro
de dezenas e dezenas de anos. A morte do meu irmão Vavá… O Vavá era como se fosse um pai da família toda. E a morte do meu neto é uma coisa
que efetivamente não, não… Eu às vezes penso que seria tão
mais fácil que eu tivesse morrido e a vida em 73 anos poderia morrer e deixar meu neto viver. Mas não são apenas esses momentos que deixam a gente triste, sabe? Eu sou um homem que tento ser alegre,
tento trabalhar muito para a questão do ódio tento, sabe? Eu trabalho muito para vencer a questão do ódio,
a questão da mágoa profunda. Eu quando vejo essa gente que me
condenou na televisão, sabendo que eles são mentirosos,
sabendo que eles forjaram uma história… Aquela história do Powerpoint do seu Dallagnol, aquilo nem o bisneto dele vai acreditar naquilo. Esse messianismo ignorante, sabe? Então, eu tenho muitos momentos de
tristeza aqui, mas o que me mantém vivo, e é isso que eles tem saber, eu tenho
compromisso com esse país. Eu tenho compromisso com esse povo e eu estou vendo a obsessão que está acontecendo agora. A obsessão de destruir a soberania nacional. A obsessão de destruir emprego A obsessão de juntar um trilhão
para quê? Às custas dos aposentados? Se eles lessem alguma coisa, se eles conversassem, eles saberiam que esse cidadão aqui analfabeto, quarto ano primário e um curso de torneiro mecânico juntou 370 bilhões de dólares de reservas, que a R$4 o dólar dá mais de 1 trilhão de 200 bilhões sem causar nenhum prejuízo a nenhum brasileiro. Então, se eles querem juntar 1 trilhão, tem uma fórmula secreta: coloque o povo no
orçamento da União; segundo, gere emprego, terceiro, gere
crédito para as pessoas. O povo está devendo? Está. Tire todo o penduricalho da dívida do povo e ele paga apenas o principal no banco que você vai perceber que as
pessoas voltam a poder comprar. Um país que não gera emprego, não gera salário, não gera consumo, não gera renda, quer pegar do aposentado e do velhinho 1
trilhão? O Guedes precisava criar vergonha. Onde que ele fez esse curso de Economia dele? Se ele quiser me visitar aqui eu discuto com ele como é que a gente resolve este problema dos pobres sem causar prejuízo aos pobres. Por que é que não mostra os privilegiados que ele fala que vai acabar com o privilégio? Coloca lista do jornal de dez privilegiados. Coloca o nome, CPF. Não, é o coitado, que vai ter que trabalhar até os 65 anos, que vai ter que contribuir 40 anos, sabe? Ele não percebe que muita gente morre sem chegar chegar à essa idade. Então, eu lamento profundamente, lamento profundamente o desate que está
acontecendo nesse país e é por isso que eu me mantenho em pé. O dia que eu sair daqui eles sabem… O dia que eu sair daqui eles sabem… Eu estarei com o pé na estrada. Para junto com esse povo levantar a cabeça e não deixar entregar o brasil aos americanos. Acabar com esse complexo de vira lata. Eu nunca vi um presidente bater
continência para a bandeira americana. Eu nunca vi um presidente ficar dizendo “eu de amo os Estados Unidos, eu amo”, ama sua mãe, ama o seu país. Que ama Estados Unidos, que ama… Alguém acha que os Estados Unidos
vai favorecer o Brasil? Americano pensa em americano em
primeiro lugar, pensa em americano em segundo lugar, pensa em americano em terceiro lugar, pensa em americano em quarto e se sobrar tempo pensa em americano. E fica os lacaios brasileiros achando que os americanos vão fazer alguma coisa por nós. Quem tem que fazer por nós somos nós. Acabar com o complexo de vira-lata,
levantar a cabeça, e a solução dos problemas do Brasil está tento do Brasil. [Bergamo] Presidente, a gente vai depois retomar
essa questão de previdência e tudo, eu só queria, para encerrar o capítulo da prisão, saber como que é a rotina do senhor. O senhor passa muitos momentos sozinho, é isso? – Passo o tempo inteiro sozinho. E como que é, porque eu já tive a oportunidade de entrevistar muitas pessoas presas, mas que tinham outras pessoas. Eu fico sozinho. E para o senhor, como é que é essa coisa do tempo não passar, um pouquinho como é que é isso? Deixa eu te falar uma coisa, eu leio, eu
vejo pen drive que o pessoal me manda, assisto filmes, muitos filmes, muita
série, muito discurso, muita aula. Eu, por exemplo, fiz, na minha cela… Porque eu não trato de cela, eu trato de uma sala, porque é melhor Eu fiz um curso sobre Canudos. Tem um curso no canal “Paz e bem” sobre Canudos, recontando a história,
mostrando as mentiras que Euclides da Cunha contou sobre os sertões, sobre
sobre Canudos. Ou seja, a história não é aquela. Então, eu fiz um curso de oito aulas, agora eu sugeri ao Mauro Lopes do canal “Paz e Bem” que faça um curso-retrato do Brasil. Tome todas as lutas sociais no
Brasil. E agora acho que toda a segunda-feira tem uma aula. Eu espero juntar umas quatro ou cinco, recebo um pen-drive, vou assistindo e vou me aprimorando. Quando eu sair daqui
sairei doutor. [Bergamo] Presidente, o senhor é… Queria fazer duas perguntas em uma. O senhor, na sua rotina, lava sua própria roupa, lava as suas coisas? E a prisão mudou o senhor em
alguma coisa? Deixa de falar uma coisa para você. É engraçado, porque eu sempre tive
vontade de morar sozinho Quando eu fiquei viúvo a primeira vez em
1971, eu fiquei bravo com a minha mãe, porque meu sonho era alugar um quitinete e morar sozinho. Minha mãe morava com a minha
irmã, minha mãe abandonou minha irmã, foi na minha casa e exigiu que eu alugasse
uma casa para morar comigo. E eu morei com a minha mãe durante três anos e meio. Então, eu sempre quis ir embora só. Sabe aquele sonho que eu nunca tive, sabe? Jogar a cueca para qualquer lado, a meia para qualquer lado, a camiseta para qualquer lado, ou seja, não ter que colher, não ter que prestar contas, não tem ninguém atrás de mim “colhe, recolhe, põe na gaveta, põe no chuveiro”, sabe? Hoje, eu faço isso, mas eu preencho
meu tempo vendo muita coisa. Eu assisto reuniões…
– O senhor que lava as suas roupas, suas coisas? – Não.
– Não? As pessoas trazem? Eu mando para o meu pessoal lavar. Mas eu, assim, eu curto a solidão tentando aprender, mentalizar a minha espiritualidade, tentar gostar mais do ser humano, tentar ficar um pouco mais humano, sabe? Eu acho que eu vou sair daqui
melhor do que eu entrei, com menos raiva das pessoas, sabe? Eu vou sair um cidadão bom daqui e motivado para brigar. Estou doido para fazer uma caravana. [Fernandes] Tem um grupo de pessoas, militantes, que estão aí na porta que dizem “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite” para o senhor todos os dias O senhor escuta esse grito de “boa noite, boa tarde e bom dia”? Como é que é para o senhor? Eu escuto todo santo dia “bom dia, boa tarde, boa noite” Quando tem atividade, que eles colocam o
carro de som um pouquinho melhor eu escuto discurso das nove horas da manhã
às nove horas da noite, ou seja, é música, é canto, é tudo. Eu, sinceramente, não sei como um dia eu vou poder agradecer essa gente Tem gente que está aqui exatamente
desde o dia que eu cheguei aqui. Vai pra casa às vezes lavar roupa
e volta pra cá. Então, eu serei eternamente grato, não sei se isso já aconteceu alguma vez na história com alguém, mas eu, sinceramente, não sei como fazer para agradecer. Eu já disse tem pra todo mundo aqui, certamente a polícia tem suas regras, o meu pessoal tem suas regras, mas quando eu sair daqui, eu quero sair
daqui a pé e quero ir lá no meio deles. A primeira cachaça eu quero tomar com
eles e brindar.

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Marcelo Wagner

Marcelo Wagner

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